Paredes estampadas, lustres coloridos, portas e janelas vermelhas, quadros pela cozinha… Cada cantinho do lar da chef Cafira Foz é um lembrete de que beleza e personalidade podem estar presentes nos mínimos detalhes do dia a dia. Mas dá pra acreditar que sua ideia inicial era ter uma casa minimalista?
Comandando três restaurantes em São Paulo, Cafira conta que o desejo de ter um imóvel próprio já existia há algum tempo, mas foi a oportunidade de assumir a gastronomia da Pinacoteca que realmente abriu espaço para grandes mudanças — e a troca de endereço está entre as principais. O novo lar fica em um ponto estratégico, no meio do caminho entre seus empreendimentos: Fitó Pinheiros, no Largo da Batata, e Fitó Contemporânea e Fitó Pina, na Luz.
Quando ela comprou o apartamento, os antigos proprietários estavam finalizando uma reforma, e a cozinha aberta foi um dos elementos que a conquistaram. Mas não só isso: a rua silenciosa, o prédio pequeno, a vista livre coroada por uma igreja que afaga o olhar — tudo contribuiu para a decisão de fazer dali seu lugar no mundo. Com a chave em mãos e um talento natural para decoração, Cafira não poupou esforços para transformar aquela tela em branco em um refúgio acolhedor. Com exceção de poucos itens levados na mudança, a ideia era recomeçar do zero, abraçando uma virada de página total.
“No meu apartamento antigo, eu tinha muitas coisas e tudo aquilo dava muito trabalho, então pensei: ‘aqui eu vou ser minimalista’”, ela conta. Mas confessa, entre risadas: “Foi só eu me deparar com o papel de parede que escolhi para a sala que essa ideia foi por água abaixo”. A escolha, porém, não poderia ter sido mais certeira: as estampas no corredor e na sala fazem referência à Parnaíba e aos Lençóis Maranhenses, remetendo à sua relação com o Nordeste e dialogando com saudades do passado. Criada no Piauí, Cafira carrega muito da cultura do estado — inclusive nos pratos que serve em seus restaurantes.
Maximalista por natureza, seu lar inevitavelmente acabou acolhendo toda a sua potência criativa. Mesmo com apenas um ano desde a mudança, alguns ambientes já ganharam novas versões. Recentemente, a chef contou com a ajuda da arquiteta Yanaina Barros para reformar espaços como a cozinha, o lavabo e o hall de entrada. O resultado mistura cores e estampas com liberdade, reflete a personalidade da moradora e revela seu cuidado em equilibrar beleza e funcionalidade — criando uma atmosfera livre de excessos, onde os objetos trazem conforto, e não o contrário.
“A casa é um reflexo do dono, ela precisa me acolher. Precisa ser essa casa que é criativa e que pensa, onde a bagunça é uso e não descuido, uma casa onde as pessoas se sintam à vontade, se sintam parte, que não seja cerimoniosa”, diz. Além disso, é impossível falar de sua rotina sem mencionar os companheiros de quatro patas: os gatos Miu e Helena, e a cachorra Tonta, que circulam livremente pelos cômodos, sempre garantindo um chamego a mais.
A cozinha, além de vibrante e bem equipada, se adapta a diferentes ocasiões: refeições rápidas no dia a dia, gravações de receitas para suas redes sociais, testes de novos pratos para os cardápios do Fitó e encontros entre amigos, sempre embalados por muita comida boa.
Mesmo com uma rotina agitada, Cafira faz questão de respeitar o próprio bem-estar — ainda que isso signifique criar uma dinâmica fora do padrão, com horários pouco convencionais. Ela costuma passar as manhãs trabalhando de casa e, à noite ou de madrugada, reserva um tempo para estudos e pesquisas criativas ligadas aos seus projetos.
Com tantas nuances de si mesma, ela fez do seu lar um espaço onde todas podem coexistir e se acolher: um lugar que abraça o futuro, mas carrega memórias; onde se trabalha, mas também se descansa; onde o acolhimento e o desapego convivem em harmonia. E onde tudo pode mudar a qualquer momento — afinal, como uma casa pode permanecer igual se quem vive nela está em constante transformação?
Texto por Yasmin Toledo | Fotos por Leila Viegas
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