Essa história faz parte de uma jornada que sempre sonhamos em fazer. Com o projeto Histórias Brasil Adentro, estamos finalmente na estrada, percorrendo as cinco regiões do país para descobrir e celebrar os múltiplos jeitos de morar que só o Brasil tem. Cada matéria desta série é uma parada em busca de casas com alma, que falam sobre pertencimento, memória e identidade. Seja bem-vindo à nossa viagem!
Para quem vive em Brasília, a arquitetura monumental faz parte do cotidiano. No caso de Camila Abrahão, essa influência foi além: crescer em uma cidade onde a arquitetura se impõe com tanta força fez com que ela escolhesse seguir essa carreira. Nascida e criada na capital, sua infância foi marcada pela liberdade de correr sob os pilotis e ser abraçada pelo verde das superquadras. Essa vivência afetiva moldou seu olhar muito antes da formação acadêmica, ensinando-a a perceber a cidade não apenas como um cenário de passagem, mas como uma extensão de casa.
“O modernismo de Brasília é uma referência que está muito presente no meu trabalho, logo na minha casa. Minha intenção neste apartamento foi valorizar a arquitetura que já existia, e não passar por cima”, Camila explica.



Construído na década de 1960, em uma das primeiras levas da cidade, o edifício tem projeto original do arquiteto Hélio Uchôa. Uma de suas características mais marcantes é o cobogó cerâmico — distinto dos blocos de concreto pintados de branco das quadras vizinhas — que traz um toque mais rústico e acolhedor. Na reforma, esse detalhe especial foi destacado: ao remover a parede da área de serviço e integrar os ambientes, Camila transformou o elemento vazado em protagonista, permitindo que a luz e a ventilação circulem livremente.
Além dos cobogós, Camila teve o cuidado de resgatar outras características do projeto original, como o piso de tacos. Já na cozinha, a solução foi sustentável e também valoriza a memória: ao retirar o revestimento das paredes da área de serviço, a moradora se deparou com uma grande quantidade de mármore Branco Espírito Santo — um clássico da arquitetura local. Recusando o desperdício, ela reaproveitou os cacos da pedra para criar um piso cheio de personalidade. Para amarrar os tons e trazer aconchego, a parede colorida da sala abraça o espaço, dialogando com as outras escolhas do projeto.










Para arrematar a base de materiais, o brilho surge nos detalhes: metais, puxadores e até as chaves ganharam acabamento em latão, trazendo um tom dourado que conversa com o calor da madeira. Na decoração, a regra foi a liberdade. Fugindo da rigidez da marcenaria fixa e da iluminação embutida, Camila optou por móveis soltos que permitem um layout flexível. O garimpo de peças modernistas se mistura ao design brasiliense contemporâneo, tudo disposto de forma a privilegiar a conexão com o verde lá fora – aqui, sentar-se na sala é um convite para admirar as copas das árvores, e não a televisão.
Quem também admira clássicos do design ou peças garimpadas logo reconhece as relíquias que Camila possui, como a mesa de jantar de Florence Knoll, cercada pelas cadeiras italianas Cesca e as poltronas pretas de Geraldo de Barros. O acervo ainda conta com a icônica chaise LC-4, assinada por Le Corbusier e Charlotte Perriand, uma poltrona de Percival Lafer e obras de Rubem Valentim nas paredes.








Para Camila, a decoração deve ser construída aos poucos e guiada pela necessidade de cada momento. É nessa busca por peças que tenham personalidade que a Casa Riachuelo entra em cena. A moradora se encantou com a variedade de produtos — tanto na loja quanto no site — para complementar sua curadoria de objetos de forma leve e funcional. As luminárias sem fio, por exemplo, garantem a liberdade de layout que ela preza, enquanto os vasos de vidro trazem transparência para realçar as plantas sem criar barreiras visuais. Das louças e toalhas às velas e fragrâncias, cada escolha foi pensada para fazer sentido dentro dessa arquitetura marcante, provando que os detalhes do dia a dia são essenciais para compor a alma da casa.








Mais do que uma reforma, o apartamento de Camila é um manifesto de afeto por Brasília. Ao valorizar a arquitetura original e revelar a essência do edifício, ela criou um lar que não compete com a cidade, mas conversa com ela. É um refúgio que traz acolhimento e natureza, mas que também está sempre pronto para receber os amigos e abraçar a bagunça gostosa da vida real. Ali — em cada peça e detalhe — Camila consegue traduzir seu estilo e seu ofício, transformando a casa em uma grande expressão de seu eu.
Texto por Bruna Lourenço | Coordenação de pauta por Paula Passini e Dora Campanella | Fotos por Leila Viegas
Produção e Direção Criativa por Bruna Lourenço e Paula Passini
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