Quando os estilistas Antonio Castro e Daniel Bombonato se mudaram de sua antiga kitnet para o apê atual, um imóvel alugado de quase 100 m², um novo mundo de possibilidades se abriu: assumidamente caseiros e apaixonados por arte popular, o novo espaço — mais amplo e iluminado — se tornou o cenário perfeito para reunir ainda mais daquilo que amam em um só lugar. Quem os visita hoje encontra obras espalhadas por todos os cômodos e corredores, mas se engana quem pensa que essa curadoria reflete uma simples empolgação com a mudança.
“Acho que o maior ensinamento que trazemos do antigo apartamento é esse olhar de curadoria para o que entra na casa”, conta Antonio. No lar deles, praticamente tudo tem um porquê: várias peças vêm de amigos próximos — como o sofá vintage restaurado por Paul e Victor, da Nhawpa; fotografias de Paulo Accioly, Cleyton Almeida e Derek Fernandes; além de pinturas e colagens de Gustavo Diógenes e Diego de Santos. Outras são artesanatos brasileiros e obras de artistas populares com os quais Antonio trabalha nos projetos e coleções da FOZ, sua marca de roupas.
Há também peças adquiridas em viagens, que refletem interesses genuínos dos dois — como a paixão de Daniel por artesanato e arte indígena e a pesquisa de Antonio sobre a produção artesanal alagoana.














“No começo, queríamos muito seguir uma identidade mais modernista. Gostamos de arquitetura e somos fãs de muitos arquitetos e designers desse período. Mas isso caiu por terra logo na primeira semana que entramos aqui. Percebemos que, pra gente, era mais importante apoiar novos designers como nós mesmos, comprar criações contemporâneas de designers vivos, gente que está trabalhando e batalhando por um espaço no mercado hoje”, eles contam. Não à toa, cada cômodo do apartamento se tornou cheio não só de objetos que inspiram beleza, mas principalmente de peças que refletem aquilo em que o casal acredita — quase como um manifesto particular.
Soma-se à curadoria única de peças espalhadas por todos os cantos a própria arquitetura do apê: a construção antiga, com planta bem distribuída, pé-direito alto, piso de taco original, janelões e azulejos charmosos no banheiro, conquistou o casal de imediato. Como o espaço é alugado e tudo estava em ótimas condições de preservação, a ideia dos moradores foi aproveitar ao máximo a planta e os revestimentos originais.
Para potencializar esses atributos, eles contaram com a ajuda do amigo Dani, do Cafofo do Dani, especialmente na hora de trazer cor para alguns ambientes. “Tínhamos receio de usar cores, com medo de perder a luz, e ele fez escolhas muito inteligentes, levando esse fator em conta, mas também entendendo nossa personalidade e nossas vontades”, diz Antonio. As cores aparecem pontualmente em espaços de passagem, como o corredor, a entrada e o banheiro, criando atmosferas únicas dentro do mesmo lar.








Ainda que ambos trabalhem como estilistas, eles acabam fazendo do apartamento um espaço em potencial para explorar outros interesses. Ali, apenas a máquina de costura e um vestido da FOZ pendurado em forma de exposição na parede do quarto dão indícios sobre suas profissões. Ainda assim, o talento para composição e forma — tão característico de quem trabalha com moda — faz com que decorar se torne um exercício natural para os dois.
Alguns elementos presentes na casa também dialogam diretamente com a FOZ. Quadros como a tela de Getúlio Maurício, a série de Sil da Capela e de Eduardo Faustino, por exemplo, foram idealizados para se tornarem estampas e, depois, passaram a ocupar um espaço especial no lar. As manualidades que interessam pessoalmente aos moradores, como bordados e cestarias em palha, também acabam aparecendo em seus ofícios.









A rotina do casal reflete essa relação íntima com o lar. “Gostamos muito de receber amigos, mas nada muito planejado: ficamos em volta do sofá, ouvimos música e conversamos. Somos caseiros e adoramos curtir a casa. Trabalhamos fora durante a semana, então o tempo aqui é sempre muito bem aproveitado. Lemos bastante, vemos filmes e, mais recentemente, brincamos com nosso cachorro, Juazeiro.”
E o que significa “lar” para eles hoje? “Está muito relacionado a descanso. É nosso lugar de restauro e de conexão. Nenhum outro lugar traz essa sensação.”
Texto por Yasmin Toledo | Produção por Dora Campanella | Fotos por Leila Viegas
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