Essa história faz parte de uma jornada que sempre sonhamos em fazer. Com o projeto Histórias Brasil Adentro, estamos finalmente na estrada, percorrendo as cinco regiões do país para descobrir e celebrar os múltiplos jeitos de morar que só o Brasil tem. Cada matéria desta série é uma parada em busca de casas com alma, que falam sobre pertencimento, memória e identidade. Seja bem-vindo à nossa viagem!
É impossível não abrir um sorriso ao entrar neste apartamento em Salvador. Tudo começa pelo acolhimento dos moradores, que recebem com um bom abraço e portas abertas. Em seguida, vem a surpresa: o espaço parece uma casa. O pé-direito alto, os ambientes amplos e banhados de luz, e a vista impressionante para a mata fazem esquecer que se está em um prédio. Mas além de encher os olhos de primeira, aos poucos o lugar vai despertando outros sentidos, seja pelo cheirinho de café recém-coado, pelo som dos pássaros ali perto ou pelo toque dos tecidos e materiais que compõem cada canto.
Bem-vindos ao lar do diretor soteropolitano Pis Santos e da cozinheira paulistana Cris Une, que há 15 anos escolheu a Bahia como morada. E para entender como eles vivem, primeiro é preciso entender onde eles vivem. A localização do apartamento vai muito além de uma marcação no mapa: ela define a rotina e a maneira como o casal se conecta com tudo ao redor.
É como Pis conta: “Ser e viver Salvador é carregar uma frequência própria. A cidade molda o olhar, o jeito de falar, a forma de resistir e de celebrar. A mistura de ancestralidade, mar, calor, ritmo e contradição faz parte da minha identidade de uma forma visceral. Salvador me ensina a criar com fé, com ironia e com beleza. Essa vivência molda meu senso de comunidade, meu olhar sobre o Brasil e como eu me posiciono no mundo: com afeto, resistência e consciência”.
Cris é paulistana, mas carrega o mundo em suas raízes — do Japão à Holanda, passando por Sergipe. Antes de se encontrar na cozinha, sua rota foi longa: flertou com o design, formou-se em turismo e trabalhou com eventos e publicidade. Mas sua mudança definitiva para Salvador foi também o impulso para uma grande virada na carreira. Na Bahia, ela decidiu finalmente ouvir o chamado da gastronomia: estudou, estagiou e, após a chegada do filho Théo, abriu o próprio negócio, um restaurante – que em breve será reinaugurado com novo nome e formato – o Une Cozinha.
Desde a primeira vez em que estiveram no apê, Cris e Pis logo identificaram o potencial do espaço. Enquanto ele pensava: “Não quero sair desse lugar tão cedo, quero viver muito aqui ainda”, Cris também percebia que haviam encontrado um canto massa para morar, onde a rotina seria mais gostosa.
Originalmente, a área onde hoje fica o apartamento servia apenas como fundação do prédio, por isso passou anos sem ser habitada. Foi o engenheiro Asher Kiperstok quem decidiu construir ali um novo lar, e como entusiasta do reuso de materiais na arquitetura, bolou diversas soluções criativas que trazem personalidade ao projeto. Vidros temperados, subprodutos de uma antiga fábrica, foram usados de múltiplas formas: como piso, esquadrias e fechamento do quarto. A escada principal foi adaptada da casa anterior de Asher, e uma escada de incêndio se transformou em guarda-corpo no mezanino. Até uma porta vinda do Convento do Carmo foi ressignificada como um espelho. Vale destacar as janelas de topo curvo, consideradas ‘fora de moda’ pelo mercado, mas que aqui se encaixam perfeitamente, e a parede da sala, pintada com uma paleta de tintas criadas a partir da terra.
O lar, para Cris, é uma construção que nunca termina. “A casa amadurece e se transforma junto com a gente”, ela diz. Mais do que objetos, o casal coleciona histórias, e os detalhes especiais são prova disso. Ambos têm um carinho enorme pelo cantinho dedicado a Yemanjá. “No dia 2 de fevereiro, fiz um altar no meu antigo restaurante para receber os clientes e fiquei muito emocionada com o resultado. Como estava muito conectada com ele, quis trazer o altar pra casa e fazer uma versão que fosse nossa”, conta.
Na casa de uma cozinheira como Cris, receber se torna um dos momentos mais prazerosos. É uma paixão que vem da infância, das memórias de partilha com suas avós, uma brasileira e outra japonesa. Essa origem ensinou a ela que cozinhar é nutrir e curar, mas é também servir, com cuidado e afeto. Por isso, na hora de preparar uma mesa posta ou escolher utensílios para sua cozinha, Cris já sabe onde encontrar tudo o que precisa: na Casa Riachuelo. “Coisa linda pra mim é mesa posta, a combinação das louças, toalha de mesa, flores e comida gostosa”, ela fala.
Para compor a mesa no dia a dia ou em momentos especiais, Cris procura peças com design e durabilidade. Mas, mais do que isso, ela busca variedade para poder criar suas próprias combinações, misturando estilos. E é aí que a Casa Riachuelo faz toda a diferença. “Sinto que quando visito a loja, sempre consigo encontrar o que estava procurando, e quase sempre fico apaixonada por várias outras coisas”, diz. Fã antiga da marca, Cris tem muitas peças em casa, como tábuas de madeira, jarras, jogos americanos, copos e louças, que ela usa justamente para criar essas misturas.
O quarto do casal é, como eles mesmos definem, o ‘lugar de maior dengo’. É o espaço de relaxar após a rotina corrida, onde Cris, Pis e Théo se reúnem. Para criar essa atmosfera, ela sempre soube que o toque da roupa de cama era essencial — e a Casa Riachuelo também é referência nesse quesito. As novas peças trouxeram um nível de conforto que surpreendeu a moradora. “Estou apaixonada pelo toque desse lençol. Na primeira noite, toda vez que me mudava de posição na cama, pensava: que coisa mais deliciosa”, ela brinca.
No fim, o apartamento é a prova viva da filosofia de seus moradores. Um lugar onde o reuso criativo encontra o afeto da cozinha, e o design dos objetos só faz sentido quando serve ao dengo da família. Em três anos de morada, são as lembranças felizes que realmente decoram o espaço. E os momentos que realmente ficam gravados na memória são os mais simples: “É a beleza do ordinário mesmo, sabe? Acordar junto dos meus amores, ir vivendo um dia de cada vez, olhando as nossas conquistas individuais sempre de mãos dadas”. Um refúgio onde o maior prazer é viver o presente, juntos.
3 dicas da região
Casa das histórias de Salvador – Vale a pena conhecer um pouco mais sobre a história e cultura da cidade neste museu que foi inaugurado esse ano no centro histórico.
Casa do Rio Vermelho – Um memorial criado na residência do casal de escritores Jorge Amado e Zélia Gattai, daqueles passeios que dá vontade de fazer várias vezes.
Restaurante UNE Cozinha – No Rio Vermelho, visite o restaurante a qualquer hora do dia: serve desde o café da manhã até o drink com amigos no cair da noite.
Texto por Bruna Lourenço | Coordenação de pauta por Paula Passini e Dora Campanella | Fotos por Leila Viegas
Produção e Direção Criativa por Bruna Lourenço e Paula Passini
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