Essa história faz parte de uma jornada que sempre sonhamos em fazer. Com o projeto Histórias Brasil Adentro, estamos finalmente na estrada, percorrendo as cinco regiões do país para descobrir e celebrar os múltiplos jeitos de morar que só o Brasil tem. Cada matéria desta série é uma parada em busca de casas com alma, que falam sobre pertencimento, memória e identidade. Seja bem-vindo à nossa viagem!
Quem é de Recife está acostumado a conviver desde cedo com muitas manifestações artísticas, belezas naturais e joias arquitetônicas. Foi nesse contexto que a arquiteta Cecília Lemos cresceu e criou o seu repertório. Ela lembra que, ainda criança, adorava brincar de subir, sentar e escorregar em grandes esculturas espalhadas pela cidade, e só mais tarde descobriu que aquelas obras eram de artistas consagrados como Francisco Brennand e Abelardo da Hora, ícones da arte pernambucana. “Para nós, lá atrás, tudo era apenas uma brincadeira”, ela recorda. Foi brincando, aliás, que descobriu seu amor por criar — misturando cores, formas e texturas com leveza e diversão.
Décadas depois, a casa que compartilha com o marido Danilo Pedrosa e os filhos Benjamim, Siena e Gregório, reflete exatamente essa essência com seus revestimentos coloridos, obras de arte popular por todos os lados, espaços abertos para o jardim e muitas referências regionais. A arquiteta por trás de tudo isso? A própria Cecília, que agora reúne suas tantas referências de forma coesa em seu trabalho, com características que já viraram marca registrada — como a troca de pisos para demarcar ambientes de forma fluida, o regionalismo que leva afeto e história para dentro de casa, e as listras, uma paixão à parte que deixa tudo mais divertido.

















O principal desejo de Cecília para este projeto era simples: criar um refúgio para a sua família. A estratégia foi pensar em cantinhos que permitissem sentir a casa de várias maneiras diferentes, mas sempre com muito aconchego. O uso de materiais em sua forma natural — concreto, madeira e pedra — também reforça essa atmosfera acolhedora, ao mesmo tempo em que valoriza texturas e contrastes. Já o piso da área externa foi uma composição de azulejos usada por ela em uma edição da mostra CASACOR. As peças foram removidas do espaço com todo o cuidado e assim puderam ser reutilizadas em várias partes da casa.
Na decoração, as histórias se multiplicam. Muitos dos móveis foram herdados de avós e fizeram parte da infância de Cecília, então carregam inúmeras memórias afetivas. Para ela, é incrível que hoje os mesmos itens estejam construindo um cenário cheio de lembranças especiais também para os seus filhos. Lado a lado às heranças familiares, estão peças garimpadas em viagens pelo mundo. Desde almofadas da Turquia, maçanetas de Marrakech e tapetes da Croácia, até lembranças do Alasca. “A casa fala muito da gente. Cada objeto traz uma memória, um afeto”, conta Cecília.





Outro traço marcante é a presença constante da arte popular brasileira. Estatuetas, quadros e objetos artesanais ocupam as paredes e os móveis, dando ainda mais cor e poesia ao projeto. Essa relação vem de longe: o avô de Cecília era apaixonado pelo tema e lhe ensinou a valorizar o que é feito à mão. E agora ela enxerga nessa herança um dos pilares de sua vida e de sua profissão.
Ter uma área social bem integrada e ampla acabou sendo um dos pontos principais na concepção da casa, já que a família é grande — e manter as crianças sempre ao alcance dos olhos, sem privá-las da liberdade de explorar o próprio lar, é outra vantagem do projeto. “Isso deixa a família mais conectada, mesmo em espaços diferentes, e cria uma sensação de união que considero muito especial”, diz a moradora.






Cecília define o estilo de seu lar como um regionalismo moderno — é uma mistura de referências tradicionais, arte brasileira, elementos naturais, muito artesanato e a personalidade festiva da família como cereja do bolo. “Nós brasileiros somos um grande samba, somos carnaval, somos Amazônia, somos regionais, alegres, hospitaleiros… fazemos arte com as próprias mãos. Isso tudo se reflete na arquitetura e na forma como vivemos”, completa. Para ela, poder fazer parte dessa história tão rica em arte e cultura é uma enorme satisfação. Não à toa, sua casa celebra toda essa miscelânea em grande estilo.
Texto por Yasmin Toledo | Fotos por Felco
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